domingo, 20 de março de 2011

mais uma vez...

É difícil ser direta. Escrever sem nenhuma subjetividade me deixa insegura (e como!). Sempre foram meias-palavras, poucas inverdades e muitas, muitas vírgulas. As metáforas me seguram, me amparam e me dificultam: “Não entendi uma palavra do que escreveste”. E nem eu.
Resolvi mudar um pouco, falar sem intermédios. Não é a primeira vez que tento, confesso. Todas as vezes, porém, foram em vão. Eu até que comecei bem, sabe? Tentava fugir da formalidade e simplesmente escrever como se estivesse conversando com alguém. Faltava alguma coisa; um toque, originalidade (certamente). Depois descobri que essas letrinhas são escritas POR mim e PARA mim. Então, dane-se essa mania de “complexibilidade-pré- graduação”, chega de me esforçar pra fazer alguém me entender. Isso não vai acontecer, nunca.
Sou um poço de brigas internas, de mutilação intelectual por pouco mais que outro ser humano e suas complicações. “Não vale a pena”, eu provavelmente diria se viesse da boca de outra pessoa, e não vale mesmo.
Prova disso é que esses dias eu vi uma tirinha sobre bonequinhos que nasciam com um buraco na barriga e a enchiam com momentos e objetos durante a vida. Na mesma semana, a professora de psicologia da educação deu uma palavra pra cada pessoa – coisas bem aleatórias e sem-noção, tipo: colchão de mola, bananeira – e cada um tinha que dizer como seria sua personalidade caso fosse aquela palavra. A palavra “vazio” era uma delas (assim como a barriga dos bonequinhos), e a pessoa que tirou essa palavra queria mudar. Dava pra ver na expressão facial dela que aquilo era como um sinônimo de infelicidade, exclusão. Eu, entretanto e como sempre, achei o contrário. Ela tinha tudo e não sabia. O vazio estava ali, à disposição... Infinitas possibilidades de recheio pra um infinito vazio. E pros céticos que pensam que dessa forma iria se anular qualquer tentativa de melhora, eu discordo.
A gente nasce com tanto, e nem percebe. Eu fico puta da cara com as minhas reclamações idiotas e tentativas de auto-sofrimento-proposital. É querer sentir pena de si mesmo e achar que nada nasceu pra dar certo. E ta aí, é esse tal de “nada” que nos move, que nos impulsiona a tentar melhorar.
É, a vida não foi feita pra ser feliz toda a hora. Tem até um filme (não me recordo o nome) do Arnaldo Jabor que diz: “É impossível ser feliz na vida, o máximo que vais conseguir é ser alegre, quando muito”. Eu concordo, talvez pensando em alegria ao invés de felicidade eu consiga de fato chegar mais perto de sorrir mais vezes ao dia. Ou não. Tá aí, já mudei o assunto de novo.

5 comentários:

  1. sabe quando dá vontade de COMENTAR EM CAPS LOCK? pois é, foi desses. tapa na minha orelha, eu que vivo murmurando contra os vazios que (não) me preenchem aqui dentro. nunca tinha visto dessa forma. vergonha.

    "'Não entendi uma palavra do que escreveste'. E nem eu."
    bem-vinda ao mundo de quem só SENTE, sem lei! que delícia passar aqui e sorrir cúmplice assim.
    nem eu. nem eu! sempre com as metáforas e floreios pra esconder o grito que poderia ser simples...

    e sobre a percepção de que escrevemos é pra gente mesmo, Virgínia Woolf fala por mim: "Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial".

    amém!
    não pára nunca, Ju, por favor.

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  2. pra não deixar de registrar: é raro eu me arrepiar lendo algo, ainda mais em blogs que não de gente "publicada". arrepiei aqui hoje - mais uma vez.

    e OPS pro acento que eu coloquei no Virginia!

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  3. Parece que vejo você na minha frente concluindo cada palavra do que li aqui.
    Como sinto falta das nossas BOAS conversas.
    Sinto mais ainda, saudade de uma pessoinha muito especial: você.
    Espero te ver logo.
    Eu amo vir aqui nesse cantinho especial dessa rede tão grande e sentir um pouco do que você pensa, a qual muitas vezes se parece comigo.
    Você é especial jú, percebi isso a anos, quando te conheci.
    Um beijão NATI.

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  4. Como costuma ser os comentários nos textos alheiros, serei egoísta e tocarei nos pontos que me tocam.

    Acredito que as pessoas usam metáfora por medo de expressar diretamente o que gostaria. Medo esse que pode variar de "vergonha até segredo".

    Bela definição para a palavra "vazio", eu nunca chegaria em tremenda nobreza de pensamento sobre tal palavra.

    Uma frase que tu escreveu me deixa bastante irritado, pois reflete muito as atitudes das pessoas: "É querer sentir pena de si mesmo e achar que nada nasceu pra dar certo" - eu substituiria essa frase por: "a vida é apenas reflexo dos comportamentos de cada pessoa." assim as pessoas se responsabilizam pela vida delas e ainda, caso haja alguma frustração ela sabe que foi por falta de esforço.

    Não concordo com a última parte do texto.

    E por fim, quanto ao teu comentário sobre a minha ambiguidade, acredito que somos parecidos nesse aspecto. Infelizmente a diferença é que não é o motivo pelo qual eu te admiro ou me admiro. Na verdade, gosto muito mais da Ju Bender que escreve do que a que eu encontro em lugares aleatórios. Mas acredito que pra eu conhecer a Ju bender que escreve, preciso antes, passar pela Ju bender que vejo as vezes. Eu gostaria de ser mais como escrevo do que como tu me "conhece".

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  5. "... dane-se essa mania de “complexibilidade-pré-graduação”, chega de me esforçar pra fazer alguém me entender."
    1. Adorei a expressão!
    2. Acho que é justo aí que as pessoas te entendem, ou começam a entender, algumas pelo menos.

    Gostei bastante das coisas que cê escreve e pensa aqui. Sobre o vazio, de uma das minhas músicas favoritas, vale a pena:

    "O vazio é um meio de transporte para quem tem coração cheio, cheio de vazios que transbordam seus sentidos pelo meio, meio que circunda o infinito tão bonito de tão cheio, cheio que ensina e que termina começando outro passeio..." E por aí vai (:

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