quarta-feira, 26 de maio de 2010

antes do amanhã



O fim do dia. As palavras levantam-se calmamente e passam de maneira lenta aos olhos de quem as pronunciara tempos atrás. As atitudes renovam-se e atingem diferentes ângulos entre os pecadores e os atingidos. Os passos tomam ritmo e mostram aos que têm pressa, o andar vantajoso de quem não corre atrás do futuro. O cenário muda e novas possibilidades são almejadas.
É no fim do dia que julgamos nossa passagem, já que é nele que se concentram as últimas palavras antes do recomeço e os pensamentos criteriosos antes dos que seguirão.
São nas últimas horas de olhos abertos que podemos modificar todo o rumo do amanhã, que podemos lamentar as horas perdidas e pedir por extras. São nessas últimas horas que encontramos respostas para possíveis indagações, que descobrimos o prazer dos detalhes e a insegurança dos momentos, que mudamos em nós mesmos o que foi mal refletido por outros e que fazemos do próximo dia, o melhor dentre os que passamos.
O fim do dia é a possibilidade de pensarmos no restart e o dia seguinte a de transformar idéias em atos concretos.
Somos melhores a cada segundo, fazemos o amanhã esperar mesmo sem pararmos os ponteiros do relógio. Somos frutos imperfeitos do indiscutível e eternos aprendizes das horas marcadas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brumas


Falta valorizar. O dia de amanhã é neblina, é aquele tenso rastro de faz-de-conta que não permite aproximações, e a bruma só começa a dissipar quando os primeiros raios da manhã decidem varre-la do ontem, para que o hoje se aproxime com cautela. E nem assim, rodeados pelo nevoeiro em cada singular dia, aprendemos a dar valor aos que nos cercam, àqueles que assopram junto – por menor que seja o sopro – os devaneios de quem agoura um dia prazeroso, fértil. É triste ter que esperar que a terra corroa o resquício da carne - como se as lembranças fossem voláteis no mesmo ritmo do desgaste da pele - ,enquanto as memórias e o passado permanecem intocáveis, mas afogados pela mágoa do “deveria de ter dito”, “poderia ter feito”.
O remorso não dá vida ao passado, entretanto, afunila mais e mais o – já estreito – caminho até a auto remissão, enquanto o lago salgado de lágrimas ganha profundidade e aumenta a culpa.
São os tiques do relógio, o barulho da repetição e o desabafo que afastam a aflição, que endireitam os pés nos trilhos e secam o lago salgado. São as incontáveis lamentações e o enterro da amargura que vencem a indignação divina – aos que culpam os Céus – e faz o tempo perdoar as ações e torna-se aliado do amanhã.