segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

dois pés e um coração


Eu sempre caminhei para frente. Linha reta, nada a mais, nada a menos. Dificilmente me peguei olhando para trás - por mais que minha consciência pedisse que sim -; meus pés sempre foram fortes, predominantes e, mesmo assim, tão pequenos e calejados.
Por vezes tentei vencê-los, tentei me livrar dessa mania de linearidade que tanto me levou para o inconfundível erro. Meus dedos, por vezes, sentiram o chão enrijecer, pedregoso e ríspido; eles me pediram pressa, o mais rápido que eu pudesse andar. Nunca soube dizer não, nunca. E, dessa forma, jamais desviei, nem atalhos ou ruelas. Só me sobraram os retalhos e remendos, a vergonha do maldito e estúpido erro de negligenciar a mim mesma e a minha vontade de dizer não.
Até ontem. Sim, talvez pela primeira e única vez na vida resolvi recuar e não avançar. Desacelerar e, milagrosamente, esperar. Dói, e como dói. Os atalhos requerem força de vontade, espinhos na pele, lama no chão. Os olhos viram oceano e os peixes são só carcaças. É vontade de gritar, de ir para frente, mas não dá. Não depois de tanta agonia.
Resolvi parar de duvidar, parar de ser linear e previsível. Talvez eu realmente precise caminhar para trás, para os lados e, quem sabe, simplesmente esperar no próprio lugar. O chão cura, os pés curam, a vontade cura, porém a experiência não. É menos dor de cabeça, é menos tapa na cara e isso é exatamente o que eu preciso: não de cura, mas prevenção.