quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brumas


Falta valorizar. O dia de amanhã é neblina, é aquele tenso rastro de faz-de-conta que não permite aproximações, e a bruma só começa a dissipar quando os primeiros raios da manhã decidem varre-la do ontem, para que o hoje se aproxime com cautela. E nem assim, rodeados pelo nevoeiro em cada singular dia, aprendemos a dar valor aos que nos cercam, àqueles que assopram junto – por menor que seja o sopro – os devaneios de quem agoura um dia prazeroso, fértil. É triste ter que esperar que a terra corroa o resquício da carne - como se as lembranças fossem voláteis no mesmo ritmo do desgaste da pele - ,enquanto as memórias e o passado permanecem intocáveis, mas afogados pela mágoa do “deveria de ter dito”, “poderia ter feito”.
O remorso não dá vida ao passado, entretanto, afunila mais e mais o – já estreito – caminho até a auto remissão, enquanto o lago salgado de lágrimas ganha profundidade e aumenta a culpa.
São os tiques do relógio, o barulho da repetição e o desabafo que afastam a aflição, que endireitam os pés nos trilhos e secam o lago salgado. São as incontáveis lamentações e o enterro da amargura que vencem a indignação divina – aos que culpam os Céus – e faz o tempo perdoar as ações e torna-se aliado do amanhã.

3 comentários:

  1. Que belo texto! Ele me traz a certeza que o universo sempe conspira para a felicidade humana. Infelizmente, dementes e cegos, somos incapazes de perceber as oportunidades que estão a nossa volta, as mãos estendidas, as pessoas belas e harmoniosa que só de olhar nos enchem de paz e esperança - como você! Obrigado por estares seguindo-me e isso me faz um pouco mais feliz, por que tenho agora uma leitora com a sua sensibilidade, com a sua meiguice. Estarei também caminhando nesta tua estrada blogueira e deleitando-me com a tua cativante figura e com os arroubos da tua alma romântica e diligenciadora. Um forte abraço do Leonam.

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  2. as brumas têm sempre um quê de mistério, um pouco de dúvida, e um pedaço de ilusão, fantasia ou devoção, esperemos que o amanhã seja claro e o nevoeiro se dissipe se esse for o desejo, a paixão.

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  3. esse final valeu pelo texto inteiro, que também está lindo :)

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