quarta-feira, 18 de agosto de 2010

homem-vácuo


Com certeza o som não se propagava naquela imensidão omitida pela negritude dos fios recém-lavados. Vácuo seria um apelido carinhoso demais para designar tamanho espaço oco que se estendia de frente pra mim, encarando-me. Sim, falo de um ser humano – se é que posso chamá-lo assim.
Um homem, como podem ter percebido. E poderia ser diferente? Às vezes penso se aqueles dois bracinhos teriam sido realmente projetados pra viver entre os bípedes, e ainda tenho minhas dúvidas.
As faíscas transformaram-se em tochas prontas pra incendiar o Senhor Maravilha ao menor mover de seu esbelto corpo. Convenhamos, alguma coisa de interessante ele deveria ter, pena que não me avisaram antecipadamente que a futilidade tinha nome, sobrenome e um cartão Visa platinum com estrelinhas azuis pra combinar com seus olhos.
Envergonho-me por ter matado alguns neurônios ao pensar nele, mas agradeço por não ter dado tempo do meu cérebro desintegrar totalmente – se ao apertar minha mão, vocês notarem que pisco o olho, não se preocupem, são resquícios incuráveis de uma péssima companhia.
Agarro-me às fofocas diárias que a mulherada passa e repassa: falta homem no mercado. Entretanto, quando falo de homem, não me refiro aos tapados de plantão que pegam balada no fim de semana e torram a conta bancária pagando bebida às atiradas de tempo integral. Não me levem a mal – e nem a quantidade de “Não” que consigo escrever em meia dúzia de linhas -, porém uma coisa é certa: se ser mulher é aceitar essa babaquice de homarada acéfala, declaro publicamente: NÃO SOU MAIS MULHER. E tenho dito.

sábado, 24 de julho de 2010

Quanto vale a humanidade?

O mundo caçoa, ri de pandemias. “São apenas porquinhos gripados”, dizem. Falta de instrução ou ignorância? Estamos em estado de calamidade homogênea, o mundo está beirando a catástrofes, enquanto aqueles que se dizem superiores, antagonizam seu individualismo exacerbado primitivando o que possuem de melhor: a inteligência. A superioridade encontra-se perdida, junto ao chiqueiro global.
Nossos princípios têm se modificado periodicamente, o egocentrismo tornou-se elogio e nato. O sabor do poder se sobressai ao gosto pela vida, celulares e computadores avançados tomam o lugar da preocupação física e mental do ser humano. As conseqüências? Olhe em volta, veja por si mesmo.
Os valores transformaram-se em clichês baratos, somos bombardeados pelo que há de novo em termos de “evolução material”, enquanto o intelecto humano desenvolve-se um meio. Do que adianta a sabedoria monetária se esquecemos do valor da vida? Deveríamos estar vestindo sorrisos, não máscaras brancas. Deveríamos desenvolver nosso lado humano, não a busca de cifrões.
As vozes da sabedoria calam-se cada vez mais, tornam-se tácitas e sem esperança de progresso; afinal, valemos menos do que aquilo que construímos? Nossa estupidez chegou ao ponto de multiplicarmos as atrocidades à medida que tentamos – inultimente – consertar o que já havíamos provocado.
Nosso planeta implora ajuda àqueles que se algemaram ao capitalismo e jogaram a chave fora. Infelizmente não temos tempo de fazer outra, mas ainda podemos nos desviar do abismo, cortando as correntes que nos encarceram a bestialidade da ciência material.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

antes do amanhã



O fim do dia. As palavras levantam-se calmamente e passam de maneira lenta aos olhos de quem as pronunciara tempos atrás. As atitudes renovam-se e atingem diferentes ângulos entre os pecadores e os atingidos. Os passos tomam ritmo e mostram aos que têm pressa, o andar vantajoso de quem não corre atrás do futuro. O cenário muda e novas possibilidades são almejadas.
É no fim do dia que julgamos nossa passagem, já que é nele que se concentram as últimas palavras antes do recomeço e os pensamentos criteriosos antes dos que seguirão.
São nas últimas horas de olhos abertos que podemos modificar todo o rumo do amanhã, que podemos lamentar as horas perdidas e pedir por extras. São nessas últimas horas que encontramos respostas para possíveis indagações, que descobrimos o prazer dos detalhes e a insegurança dos momentos, que mudamos em nós mesmos o que foi mal refletido por outros e que fazemos do próximo dia, o melhor dentre os que passamos.
O fim do dia é a possibilidade de pensarmos no restart e o dia seguinte a de transformar idéias em atos concretos.
Somos melhores a cada segundo, fazemos o amanhã esperar mesmo sem pararmos os ponteiros do relógio. Somos frutos imperfeitos do indiscutível e eternos aprendizes das horas marcadas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brumas


Falta valorizar. O dia de amanhã é neblina, é aquele tenso rastro de faz-de-conta que não permite aproximações, e a bruma só começa a dissipar quando os primeiros raios da manhã decidem varre-la do ontem, para que o hoje se aproxime com cautela. E nem assim, rodeados pelo nevoeiro em cada singular dia, aprendemos a dar valor aos que nos cercam, àqueles que assopram junto – por menor que seja o sopro – os devaneios de quem agoura um dia prazeroso, fértil. É triste ter que esperar que a terra corroa o resquício da carne - como se as lembranças fossem voláteis no mesmo ritmo do desgaste da pele - ,enquanto as memórias e o passado permanecem intocáveis, mas afogados pela mágoa do “deveria de ter dito”, “poderia ter feito”.
O remorso não dá vida ao passado, entretanto, afunila mais e mais o – já estreito – caminho até a auto remissão, enquanto o lago salgado de lágrimas ganha profundidade e aumenta a culpa.
São os tiques do relógio, o barulho da repetição e o desabafo que afastam a aflição, que endireitam os pés nos trilhos e secam o lago salgado. São as incontáveis lamentações e o enterro da amargura que vencem a indignação divina – aos que culpam os Céus – e faz o tempo perdoar as ações e torna-se aliado do amanhã.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Silêncio



Já me disseram que o amor cura tudo, mas rebateram a teoria afirmando que machucados de amor nunca cicatrizam. Convencionaram mencionar que por amor sempre vale à pena, mas então, fruto de que circunstâncias as cicatrizes se formaram? Diante de antíteses, paradoxos, antagonismos e derivados fico à espreita de uma resposta plausível ou simplesmente adequada. Não procuro certezas, pois compreendo o quão amplo são os sentimentos e distintos entre nós; bastariam, porém, palavras que preenchessem tamanha incerteza de quem acabou se conformando com ambos os lados.
E quando dizem que na falta de palavras o silêncio deve prevalecer, assim o faço.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Apresentação (des)necessária


Cansei de terceira pessoa, escrever em primeira parece-me mais convincente. Não que eu deva convencê-los de algo ou engrandecer inúteis sentenças de esperança para meu “quem sabe futuro eu - lírico”, mas quando não preciso intermediar palavras, tenho a impressão de estender a realidade.
Ultimamente tenho desconectado idéias e olhado fixamente entre o vão da janela à espera de uma possível reencarnação de Jostein Gaarder sucumbir-se ao meu intelecto. Dou risadas. Tenho comigo que ninguém nasce um exímio escritor, ou será que Dan Brown já haveria de formar palavras com o próprio cordão umbilical? Às vezes penso que se assim eu tivesse feito, conseguiria no máximo enforcar-me com o próprio. Quanta bobagem.
Penso em minha capacidade incapaz com as palavras, há tanto nesse universo gramatical que eu morrerei sem compreender! Dramatismo típico, mas continuo incomodada. Pretensão demais pensar-me junto à lista de redatores de grandes jornais e revistas, ou à fantástica literatura supersaturada de besteiras intantilóides e previsíveis, mas condecorada de autores-de-cordão-umbilical.
Para tanto, mesmo sem haver instruções certamente delimitadas para se escrever um best-seller ou um texto comovente, ainda me sinto lisonjeada em conseguir transmitir algo através dessas letrinhas humildemente postas. Não é fácil, e como não. Comunicação é a dádiva do mundo, mas os comunicadores são poucos. Sinto em não poder fazer melhor, pelo menos por enquanto.
Há quem diga que de nada serve a luz se conhecemos nossos passos, mesmo sem conhecer o caminho. Ando manca, talvez de dor ou simplesmente por desilusão, mas enquanto palavras ainda saírem da minha boca e minhas mãos continuarem seu percurso incansável sobre o papel, continuarei na esperança de encontrar uma bengala ou um simples corrimão.